O Pitosga anda a meio gás, mas anda.
E deixo um texto exemplar de Vasco Polido Valente publicado no jornal Público.
«Num jantar com deputados do PSD, com alguns ministros e com a presidente da Assembleia da República, Pedro
Passos Coelho disse que não queria saber para nada de eleições (que se
"lixem" foi a expressão). Houve logo algumas pessoas biblicamente
estúpidas para interpretar a frase de uma maneira que nem a ocasião, nem
o contexto permitiam. Uns concluíram que o primeiro-ministro
se estava a "lixar" para a democracia. Outros –o que não passa de uma
variante - que a opinião dos portugueses não lhe interessava. Quase
ninguém percebeu (ou muita gente resolveu fingir que não percebia) o
que Passos Coelho claramente comunicou às suas tropas. A saber: que o
Governo não mexeria um dedo para ajudar o partido na série de eleições
que se aproximam (Açores, câmaras, Parlamento Europeu). É
preciso ter andado a dormir durante trinta anos para não perceber,
apesar da crise, ou por causa disso mesmo, que as clientelas do PSD não
pensam noutra coisa. Antes de Passos Coelho o PSD, longe do
poder, era uma federação de câmaras, que se aliavam ou guerreavam, para
fazer e desfazer as direcções nacionais. Muita gente com algum talento
ou sem talento nenhum desapareceu politicamente naquele insuportável
circo. E a vida do militante comum acabou por se reduzir à intriga e às
clientelas com mais força ou habilidade. O primeiro-ministro veio agora
dizer que esse tempo acabou e que daqui em diante subordinará o partido
ao interesse nacional, como ele o entende. A este acto de inteligência e
coragem o público informado respondeu com comentários rasteiros, que
envergonham um morto. Para começar, como já expliquei, a
história inteiramente idiota de que Passos Coelho desprezava a
democracia. Segundo, o protesto hipócrita e pequeno-burguês por ele se
atrever a usar, numa espécie de comício, a terrível palavra "lixem".
Isto que, em formas bem mais duras, se tornou habitual na imprensa
inglesa ou americana ainda ofende o ouvido de certas damas da academia e
da sociedade, que por aí despejam opiniões sem sentido. Vale a pena
insistir numa atitude tão ridícula? Vale porque ela mostra bem a que
ponto chega a má-fé e a obnubilação da esquerda. O PS e
arredores preferiam com certeza que o primeiro ministro se envolvesse
nos sarilhos correntes do PSD e que, em nome deles, distorcesse a
política geral do país, que eles no fundo não se importam que se lixe.
E, afinal de contas, sempre iam ganhando uns lugarzitos para a malta em
dificuldades. Nada de melhor ou de mais lúcido.»
http://jornal.publico.pt/noticia/27-07-2012/biblicamente-estupido-24967930.htm